Tabu (2012)

Tabu, de Miguel Gomes, se mistura com os clássicos desde seu título. Em uma referência em seu nome e sua estrutura ao filme de 1931 dirigido por F.W. Murnau e Robert Flaherty, Gomes cria um filme que leva o cinema de volta aos tempos da inocência. Desde o início, com a projeção de alguns frames em 16mm, Tabu demonstra saudades.

Podem condenar a comparação, mas há um clima fantasioso em Tabu que me remeteu quase que imediatamente à Cópia Fiel. São filmes essencialmente diferentes, porém. O filme de Kiarostami, que também se divide estruturalmente em duas partes, é mais moderno, em tempo real, carregado pelos seus personagens. O filme de Gomes sobrevive da pureza cinematográfica que se mantém qualquer clássico do cinema: das imagens. São as imagens que criam Tabu. Seja na primeira parte, em que conhecemos as velhas senhoras de Lisboa que vivem pelo seu passado; ou na segunda parte, narrada por Veredas na África (em uma das mais lindas narrações de todos os tempos).

É raro vermos filmes como antigamente. Não que o cinema esteja decaindo em questões qualitativas. Mas porque existe centenas de recursos que fazem a narrativa fluir hoje. Em 1931, quando o Tabu de Marnau foi lançado, o cinema sobrevivia de imagens. Ver, hoje, um filme que usa desse simples recurso para nos resgatar às origens do cinema é um suspiro. Com o seu Tabu, que remete à clássicos não por referência e sim por igualdade, Gomes criou uma obra-prima.

  • Prós: Tabu é um incrível filme sobre narrativas. É um filme puramente cinematográfico, em que as imagens, a base do cinema, são seu recurso mais importante.
  • Contras: é triste encontrar tão poucas seções de Tabu por aqui.
  • Veredicto: Tabu é atemporal. É estranho, pois o filme retrata a saudade. Mas é atemporal porque é um cinema que ele surpreendentemente resgata dos mortos. Tabu é uma fantasiosa viagem ao passado do cinema, com tudo o que nossos modos contemporâneos nos trouxeram.

Tabu (2012) Portugal, Brasil, França, Alemanha. Escrito e dirigido por Miguel Gomes; fotografado por Rui Poças; editado por Telmo Churro, Miguel Gomes; com Teresa Madruga, Isabel Cardoso, Ana Moreira, Laura Soveral, Carloto Cotta, Henrique Espírito Santo, Cândido Ferreira.

Autor: Arthur

Nada faz muito sentido.

3 comentários em “Tabu (2012)”

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