Fanny & Alexander (Fanny och Alexander, 1983)

Existem duas versões de Fanny & Alexander: a versão para TV, com mais de cinco horas de duração (e, por isso, dividida em vários capítulos); e a versão para o cinema,  com três horas. Eu optei assistir a versão original e aguentar as cinco horas no que Bergman considera o resultado de toda a sua vida como realizador.

E, bem, Fanny & Alexander é muito provavelmente um dos mais fascinantes que tive o prazer de assistir. Após ter lido sua autobiografia, Lanterna Mágica, é impossível não traçar paralelos entre a saga de Alexander e a do jovem Ingmar. Desde o primeiro quadro, em que vemos Alexander pelo seu teatro de fantoches, percebemos que estamos presenciando o mundo dele. Esse é o único filme dele que eu vi que ele dá atenção às crianças — raramente sequer vemos elas em seus filmes —, mas os reflexos de sua criação sempre foram bastante visíveis. Finalmente, em Fanny & Alexander, podemos ver esse período de sua vida como centro.

É uma inspiração direta, e talvez Bergman seja o diretor que mais teve coragem em explorar seu passado para enriquecer um trabalho autoral como esse. Diferente de A Árvore da VidaO Espelho, ele não busca impressões do agora sobre o antes. Ele quer apenas voltar àquele tempo, rever o mundo nos olhos do seu Alexander, e como esse jovem se via fascinado pelo teatro e pelo cinema. Fanny & Alexander nunca é um experimento. Bergman não precisava mais experimentar, seu conhecimento de cinema estava em sua plenitude. Tudo o que vemos aqui é um aperfeiçoamento máximo — muito provavelmente seu mais poderoso trabalho com imagens. Tudo para traçar um paralelo entre o teatro e sua vida, como ambos são fundamentais para ele, como sua infância o guiaria até o fim de seus dias, e como ele a assiste, muito tempo depois, com curiosidade e prazer.

  • Prós: Fanny & Alexander é o canto de cisne do maior diretor de cinema de todos os tempos.
  • Contras: nenhum.
  • Veredicto: perceber um realizador como Ingmar Bergman explorar sua infância, entrar no mundo de uma criança, para tirar dali aquilo que lhe formou como homem, diretor e cineasta, que regeu o resto de sua vida, é como ver uma escultura ganhar vida. Só isso já o tornaria em uma das mais impressionantes obras que o cinema já fez. Ela se transforma na obra máxima do maior diretor de cinema quando ele encontra, nessa jornada, o mágico e o real — e os entrelaça como uma criança faria.

Fanny & Alexander (Fanny och Alexander, 1983). Suécia. Escrito e dirigido por Ingmar Bergman; fotografado por Sven Nykvist; editado por Sylvia Ingemarsson; trilha-sonora composta por Daniel Bell; com Pernilla Allwin, Bertil Guve, Börje Ahlstedt, Allan Edwall, Ewa Fröling, Gunn Wållgren, Jarl Kulle, Jan Malmsjö, Christina Schollin, Kerstin Tidelius, Emelie Werkö, Marianne Aminoff, Sonya Hedenbratt, Svea Holst, Kristina Adolphson, Kristian Almgren, Carl Billquist, Axel Düberg, Siv Ericks, Patricia Gélin, Majlis Granlund, Maria Granlund, Eva von Hanno, Olle Hilding, Käbi Laretei, Mona Malm, Lena Olin, Gösta Prüzelius, Hans Strååt, Pernilla August, Inga Ålenius, Harriet Andersson, Mona Andersson, Hans Henrik Lerfeldt, Marianne Nielsen, Marrit Ohlsson, Gunnar Björnstrand, Nils Brandt, Lars-Owe Carlberg, Gus Dahlström, Ernst Günther Jr., Hugo Hasslo, Heinz Hopf, Maud Hyttenberg, Sven-Erik Jacobsson, Marianne Karlbeck, Kerstin Karte, Tore Karte, Åke Lagergren, Sune Mangs, Per Mattsson, Lickå Sjöman, Ryno Wallin, Georg Årlin, Daniel Bell, Gunnar Djerf, Folke Eng, Ebbe Eng, Evert Hallmarken, Nils Kyndel, Ulf Lagerwall, Börje Mårelius, Karl Nilheim, Erland Josephson, Stina Ekblad, Mats Bergman, Viola Aberlé, Gerd Andersson, Ann-Louise Bergström.

Autor: Arthur

Nada faz muito sentido.

3 comentários em “Fanny & Alexander (Fanny och Alexander, 1983)”

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