Azul é a cor mais quente (La Vie d’Adèle : Chapitre 1 et 2, 2013)

Alguns podem achar as três horas de duração de Azul é a cor mais quente um exagero. Não podem negar, porém, que Abdellatif Kechiche usa todos os minutos de seu filme com louvor. É de se surpreender que, dessas três horas, cerca de 80% da projeção se faz no close do rosto da atriz Adèle Exarchopoulus, em uma das melhores interpretações vistas no cinema esse ano. Kechiche é claro na sua mensagem: Azul é a cor mais quente é sobre Adèle. Nada mais.

Há muitas semelhanças com Weekend, de Andrew Haigh, aqui. Ambos possuem um tom naturalista e o que menos interessa para o filme é o preconceito com a relação homossexual ou os problemas de sair do armário. Tanto o filme francês quanto o inglês passam por esses pontos levemente, mas o que interessa é representar o amor, afinal. Não importa o gênero das partes. E isso é louvável. Azul é a cor mais quente nunca parece ser político como a graphic novel que o baseia as vezes soa.

De fato, Azul é a cor mais quente é uma adaptação quase literal da HQ. À exceção do final (que, ao que me parece, ficará para os capítulos 3 e 4), a jornada de Adèle é quase a mesma de Clémentine. Ela experimenta sair com um garoto, mas falta algo. Ela pensa que o problema é com ela. Até que descobre Emma, uma artista com cabelos azuis. E é com ela que Adèle descobre o amor, a paixão e o sexo. Azul é a cor mais quente atravessa os anos dessa relação de maneira quase imperceptível, o que dá ainda mais força para os choques temporais: quando você percebe, o relacionamento já está se desintegrando, ou Adèle já é professora…

Durante essas três horas, Azul é a cor mais quente percorre um ciclo de relacionamento completo entre Adèle e Emma. Todo o crédito fica para Exarchopoulos e Seydoux, que interpretam com força (quase cansaço) os altos e baixos de um relacionamento movido pela paixão irrefreável de suas partes. Se as cenas são fortes por si só, é no conjunto que Azul é a cor mais quente se destaca. Kechiche se interessa por exibir o que a Adèle lê, como ela dorme, como ela transa, o som que ela faz ao mastigar de boca aberta, ou o seu suor no sexo. Durante todo o filme, você se sente dentro da pele da personagem. Você sente o calor de seu corpo, como se fosse seu. Nem mesmo um épico da Terra-Média é maior que isso.

  • Prós: o tratamento naturalista de Kechiche sobre os corpos de suas personagens, suas personalidades e seus sentimentos; as interpretações já canônicas de Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux.
  • Contras: nenhum.
  • Veredicto: é mais que sexualmente explícito. Azul é a cor mais quente é emocionalmente explícito. Conseguir colocar em imagens sensações tão fortes é um mérito que poucos filmes alcançam. Azul é a cor mais quente não só alcança, como abraça essa jornada com força.

Azul é a cor mais quente (La Vie d’Adèle : Chapitre 1 et 2, 2013). França. Dirigido por Abdellatif Kechiche; escrito por Abdellatif Kechiche, Ghalya Lacroix, baseado na graphic novel “Le bleu est une couleur chaude” de Julie Maroh; fotografado por Sofian El Fani; editado por Albertine Lastera, Camille Toubkis, Jean-Marie Lengelle, Ghalya Lacroix; com Adèle Exarchopoulos, Léa Seydoux, Salim Kéchiouche, Mona Walravens, Jérémie Laheurte, Alma Jodorowsky, Aurélien Recoing, Catherine Salée, Fanny Maurin, Benjamin Siksou, Sandor Funtek, Karim Saidi, Baya Rehaz, Aurelie Lemanceau, Anne Loiret, Benoît Pilot, Samir Bella.

Autor: Arthur

Nada faz muito sentido.

2 comentários em “Azul é a cor mais quente (La Vie d’Adèle : Chapitre 1 et 2, 2013)”

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